31 de março de 2010

Quotidiano 5

Tirou o cinto de segurança com a dificuldade de sempre e levantou-se, uma das mãos no volante e a outra na porta. Ninguém perdeu tempo em ajudá-lo. Entrou.

As mãos trêmulas já não incomodavam, tinham se transformado em coisa comum. Afinal, as pessoas terminam por se acostumar com tudo. Encostou a barriga no balcão e pediu os remédios. Notou que estavam um pouco mais caros. Não reclamou.

Subiu na balança e conferiu ter emagrecido mais dois quilos. Imaginou ser o cigarro em excesso. Saiu.

Os dias passavam um a um e um dia deixariam de passar. Ele, no entanto, não tinha tempo nem paciência para se importar. A ciência já havia avançado o suficiente para acalmar seu espírito inquieto, seu coração fragilizado, seu corpo debilitado.

Em outras palavras, estava tudo certo. Até porque mudar agora seria trabalhoso demais, bastava-lhe o trabalho penoso e diário de viver.