28 de março de 2010

Quotidiano 4

O sol batia forte, mas ele não desistia. Continuava a lançar ao mar a esperança de voltar para casa com os peixes do dia, cada vez com mais força e cada vez para mais longe. 

Em troca de cioba, havia conseguido um ótimo vinho. Era aniversário dela, e a saudade lacrimejava os olhos.

Tantas tristezas e alegrias superadas a cada café da manhã, tanta dor nas noites ruins, tanta festa nos dias bons, tanta luta. 

Anos atrás, havia saído para o baião e a encontrara. Trouxe-a consigo ao voltar para casa. Ela ainda era a mesma, tinha o mesmo jeito de menina. Haveria de ser, sabia bem, a mesma daqui a vinte anos. A mesma de sempre e para sempre.

Maior que a certeza de peixe no mar era o amor, que já começava a mostrar uma ou outra ruga e que acalmava seu espírito inquieto, seu corpo ardido de sol. Os dias passavam um a um e um dia deixariam de passar, sabia bem. Mas não importava. Porque tinha uma casa; e dentro, havia ela; e dentro dela, um coração; e dentro, ele.