9 de dezembro de 2013

Registro

Ela era uma brisa, mas aquela brisa suave de antes agora é um vendaval. Deixa tudo para trás, quer outros cantos, dobrar outras esquinas, novos voos, o mundo é tão imenso!

Quanto a mim, continuo o mesmo, a velha esquina entre realidade e utopia. Tenho dois pés e um deles insiste em não tocar o chão, tenho a mim, agora só a mim, e o coração pulando. Não tenho ideia de como será daqui para frente. Há buracos no mapa, deve ter sido o tempo.

"Mundo, vasto mundo: mais vasto é meu coração", citava Drummond. Eu perdi aquela brisa, deixei passar. "Folhas dançando", agora longe.

3 de dezembro de 2013

Sobre memória

Guardado, como aquelas coisas que ficam numa caixinha de sapatos, sobre o guarda-roupas, fica o que jamais deixará de ser importante para mim, mesmo que não signifique nada para mais ninguém.

18 de novembro de 2013

Sobre coisas e sobre ela

Tenho um barquinho kitsch de Veneza na estante do quarto, mas deixo sempre para depois a ideia de tirá-lo dali. Não sei qual é o objeto mais estranho que tenho em casa, mas provavelmente ele está entre eles. Com o tempo, tornou-se tão familiar que nem o vejo mais.

Tenho alguns cadernos, embora poucos, já que não costumo guardar muita coisa. Tenho outras coisas também, passo todo dia por elas e nem bola dou.

O que não tenho é jeito para dizer a ela o que quero. Por não ter, penso nisso direto.

4 de novembro de 2013

Estágio

Com o passar do tempo, enquanto o universo se expande, com os pontos ficando mais distantes uns dos outros, a percepção de espaço do homem parece seguir caminho contrário.

23 de outubro de 2013

Diário Online

A maneira mais inteligente de se olhar no espelho é no escuro.

21 de agosto de 2013

Surpresa

A cada gole que ela tomava, ele admirava sua leveza em levantar a xícara e levá-la à boca. Como não só as palavras dizem, dizia com os olhos que se sentia atraído com aquilo, ao vê-la mordendo a torrada e derramando farelos sobre a mesa.

Ela retribuía com um riso tímido. Com tantos olhares de fora, aquele riso familiar era uma surpresa.

25 de julho de 2013

Sobre o que aquece

Resolveu se aproximar, enquanto ela ficou observando o caminhar em sua direção. "Aqui é mais frio; na cidade, a conveniência aquece as pessoas", disse.

Ela foi se soltando aos poucos, falando sobre a calmaria do lugar. "Elas mal sabem que um coração aquece o outro", disse, em resposta.

7 de julho de 2013

Tempo

Esperar pela próxima chuva justifica tudo. O sol reaparece; e um céu mais limpo e bonito.

20 de junho de 2013

Sobre dor

A dor é tão grande que chega a confundir. Começa no peito, sobe para a cabeça e volta, ainda mais forte, ao ponto de partida. A cada soluço, a tristeza aumenta.

A vida é feita de pequenos passos e alguns são tão desprovidos de sentido que não deveriam guiar o futuro. Fico imaginando o que a pessoa que eu era diria para a que sou hoje. Acho que falaria para ter cuidado: o amor suporta tudo, mas não é de ferro e sangra.

1 de junho de 2013

Viagem

Esqueci onde estava e fui parar nas nuvens, flutuando com o calor, embora o frio entrasse sem convite pela porta. Sempre me perguntei o que é a beleza e nunca encontrei melhor definição que esta: é cada cor posta na tela branca da vida. Não tem nada a ver com a coisa estética, essa bobagem de engarrafar um padrão e vendê-lo.

Pus os pés no chão, a razão me puxou de volta, ouvi o blues da sala, percebi seus movimentos sobre mim e percebi estar no quarto.

14 de maio de 2013

Retrato perfeito de um livro

Deita-se com um pequeno espelho e vê um senhor cujas rugas dizem que sim, o tempo passou e as coisas mudaram. Já não é um menino e já não pode agir feito um. Esforça-se para lembrar o momento em que tudo mudou. Na imagem refletida, nota atrás os livros empilhados e lê os autores ao contrário. 

É quando se depara com Simone de Beauvoir e lembra que "um adulto é somente uma criança com mais idade". É sempre assim, um dia após o outro, retrato perfeito de um livro: ainda é hora de viver.

10 de maio de 2013

Retrato perfeito de um filme

Como Antoine Doinel, vou ao espelho e repito, como se precisasse, mil vezes a mesma coisa. Se já não busco a vida pelo encanto, continuo gostando das mesmas coisas e música e cinema estão entre elas.

Diálogos sem compromisso com horário, vinho e madrugada. Retrato perfeito de um filme: dizer sim, sem nada dizer.

2 de janeiro de 2013

2013

Começa o ano no blog. A quem passa por aqui, obrigado desde já! Ótimo 2013!