23 de fevereiro de 2012

3,14

Embora simples, algumas divisões têm como resultado coisas incrivelmente difíceis de compreender. É claro: nada é tão certinho quanto um quadrado.

Hoje é dia de supermercado, e ela lembrou-se que já não precisa comprar cervejas, Diamante Negro ou Ruffles. Agora está só, e a lista de futilidades cai pela metade.

No entanto, sente-se pesada com as compras mais leves, com duas ou três sacolas a menos. Pergunta-se por que está ali, se o que precisa não se encontra em qualquer prateleira de secos e molhados.

17 de fevereiro de 2012

Duas peças depois

Duas peças depois, ela brindava o momento com o corpo em êxtase, e o espelho refletia a cintura já nua. Quatro metros por dois, e o sentido de tudo distribuído em cinco, reunidos num cantinho.

Trazia o riso largo dos jovens, desprovido de amarras, condenado à liberdade, como ensinava Sartre.

14 de fevereiro de 2012

Jogo

Ela recriou os movimentos na memória e sentiu tentada a pegar o telefone. Ele não descansou: com os olhos no celular, procurava pistas nas redes sociais.

Subitamente, uma mensagem. Ela olha, mas não é ele. Chega um novo e-mail: ele verifica, mas não vem dela.

A vida para, o jogo segue — e cada um corre o seu perigo.

9 de fevereiro de 2012

Imaginário

Ao olhar-se no espelho, gira os pés ao som de Joan Jett. São duas da manhã, meia-luz, momento único. Puro instinto no comando.

Entre livros e hábitos libertários, gosta que seja assim: fala o tempo todo com a imagem refletida, dorme e anda nua pela casa; atende o cara da pizza só de camiseta.

Abre um vinho e derrama-o além da taça. Deita-se e espera. Fecha os olhos e cria imagens. Tudo flui, selvagem: mordidas no pescoço, na nuca, nos ombros. Está só e precisa se desvencilhar do pensamento.

Mãos à obra. E Hermann Hesse, que lhe inspira um mantra budista em sânscrito no corpo, surge no desfecho: sua alma é o mundo inteiro.