25 de abril de 2011

A resposta do rei

No mundo crescido, ao que parece, a preocupação está em mostrar aos pequenos que não é bom dizer que o rei está nu, mesmo quando claríssimo.

Porque, ao notar o perigo de uma boca sem limites, o rei tratará de adestrá-la e enumerar o que deve e não deve ser dito, visando, é claro, o bom convívio.

Manual prático de bons costumes, mandamentos, apostilas: quanto mais se facilita, menos se esclarece, o que faz do "treinamento" o cerne administrativo onde ficam, quase todos, dependurados.

17 de abril de 2011

Imitation of life

A repetição o encanta: todo gesto de rotina, do caminhar da casa à padaria, às 6h15, ao sono que reaparece, às 23h30, com o fim de um programa na TV.

É bastante feliz. Quando a gata encosta o pelo em seus pés, enquanto come pão com margarina, percebe a dose necessária de encanto — que o deixa enleado diante de um mundo rarefeito.

Quando deita a cabeça no travesseiro de sempre, o mundo, embora o mesmo, se revigora.

15 de abril de 2011

De rua

Branco, mas com o rosto preto, parece uma máscara. É engraçado, mas é bonito também. Está um pouco sujo, o que é compreensível. Não é questão de gostar ou não de água.

Estava com fome! Acabou de comer pão e bolacha com leite. Bebeu água também. Foi o suficiente: não para de sorrir. Agora, aquietou-se: está deitado, de cara no chão. O que será que pensa?

Se eu estava sozinho, já não estou: sinto que, como se para me recompensar, pularia na frente de um tiro. Como é que alguém abandona um coração desses?

12 de abril de 2011

Bom lugar

Cabelo vermelho, sorriso contido, Mafalda Morfina, saia e All Star preto. Uma sensação estranha de que o mundo anda chato. Quem sabe em Marte seja melhor.

Cabelo longo, riso escondido, Rush, jeans e All Star preto. Uma sensação incômoda de que o mundo anda chato. Quem sabe alguma extraterrestre o complete.

Não se falam; mas sabem: não só as palavras dizem.

9 de abril de 2011

Inquietude

O lado de dentro da máquina de café, a última camisa da gaveta do meio, o primeiro da lista telefônica, o que a Duda comeu e vomitou?

O sabor do café que vai sair, a próxima vez que irá chover, o próximo riso com algo qualquer, a próxima frase deste texto. Será que tem requeijão? Terminar assim faz algum sentido?