18 de dezembro de 2009

Daqui para frente

2009 ainda não acabou, mas posso dizer que foi um bom ano, principalmente porque me sinto mais jovem do que no ano passado. Espero ficar ainda mais novo no ano que vem.

8 de dezembro de 2009

Fluxo

Cachorros correm sob a forte chuva. Um empresário refaz as contas e tenta salvar o mês. A dona de casa vê a vida perder o encanto. Uma jovem vende produtos da Natura. Um moço trabalha das sete às cinco, toma banho rápido e corre para o ônibus, à caça de um diploma.

A chuva cessa. O cigarro, ainda aceso, briga com o tempo. As poças d'água revelam mau recape. Os pássaros sobrevoam as casas. As bancas fecham, e os jornais de hoje vão embrulhar os peixes de amanhã. O dinheiro troca de mãos. Camisas de futebol circulam.

Posto no blog. Você para e lê. Tudo o mais segue. Cachorros comemoram o fim da chuva.

4 de dezembro de 2009

Narciso

Uma flor bonita e solitária, que nasce na beirada dos rios e tem uma vida bastante efêmera, chama-se Narcisa. Colorida, ela se destaca da mata ao redor, chamando toda a atenção para si.

Seu nome vem da mitologia grega, de onde vem a história de Narciso, um homem bonito que se apaixona por sua própria imagem refletida na água. Enamorado por si mesmo, ele se afoga no rio, o que expressa a ideia de que amar demais a si próprio é um risco.

O culto à imagem é antigo e não parece estar no fim. Pelo contrário. Quanto mais belo, melhor, embora o signo da beleza não seja o mesmo para todos. Ao que parece, buscar a si é buscar um encaixe no ideal de beleza que mais lhe agrada. É estar com os seus.

Bom, mas tudo isso são apenas impressões, que poderiam ser particulares. E não são, porque tenho meu lado narcisista também e um blog para expressá-lo.

1 de dezembro de 2009

Binoche

Nunca gostei tanto de uma atriz quanto de Juliette Binoche. Acho muito bom tudo o que ela faz, sem contar que a considero uma das mulheres mais bonitas do mundo! 

26 de novembro de 2009

Sobre o que é áspero

No mundo adulto, algumas regras são necessárias para que tudo fique bem. É preciso ser complacente com quem comanda, seja o chefe da empresa ou o professor. Falar o que pensa deixa qualquer um em maus lençóis.

Frente à sinceridade da palavra, dizem os donos da caneta: "acho áspero da sua parte". 

Paga-se caro para ter suas próprias opiniões. Quem se propõe a pagar por elas sabe bem.

12 de novembro de 2009

Escolha

Seria bom manter uma visão existencialista sobre as coisas, com todo pessimismo e realidade, e ao mesmo tempo ter a fé das lavadeiras, dos adoradores de santos, como se fosse possível coexistir a infelicidade da verdade e a felicidade da mentira. Acreditar concluindo.

O mundo é um lugar apaixonante também por isso: a escolha é sempre sua.

10 de novembro de 2009

Bobagem no céu

Se na noite de ontem o céu tivesse mudado de cor ou ficado por um tempo sem estrelas e ninguém tivesse lhe contado, você teria notado? 

Bom, eu também não. De repente, não havia nada de errado, estava tudo igual: aquele fundão preto e um monte de pontinhos brancos. Abri a página do UOL agora e não havia nada. Se não publicam uma notícia dessas, é porque nada aconteceu ou não tem importância.

E outra, quem tem tempo para reparar numa bobagem dessa?

6 de novembro de 2009

Romântico não é

Este não é um mundo romântico. Ou melhor: deixou de ser. Não há mais cartas ou espera, as coisas chegam rápido e todo mundo consegue saber tudo, ou quase tudo, sobre todo mundo. 

Quase não há segredos. Os escândalos são pré-fabricados. A multidão segue o fluxo; e você e eu estamos no mesmo barco: a gente corre o tempo todo e não dá conta! Cada um com o seu perigo, o tempo já não cabe no relógio, e o relógio já não cabe no dia. 

Está tudo na internet, desvendado para consulta. Juliette Binoche está na rede de todo e qualquer jeito. Se não tenho acesso, alguém digitaliza. A um segundo, pelos meus dedos, vejo coisas incríveis. Assim, dessa forma, só preciso da memória para lembrar do que não posso ter.

Mas que coisa: temos tudo, mas não temos nada. Conversamos com o mundo inteiro e não vemos ninguém. Somos íntimos sem sequer ter apertado a mão. Temos centenas de amigos virtuais, mas ninguém a fim de correr na chuva ou fazer algo diferente. Um mundo inteiro à vista, e a gente preso em três metros por quatro, sufocado pelo concreto. 

Não digo que isso é bom ou ruim, não é esse o propósito. Mas romântico não é.

29 de outubro de 2009

Vontade

Vontade de tirar o tênis e andar descalço. Pisar na areia, sentar em alguma pedra de litoral, pular esta tarde. Vontade de ensaiar com os amigos, sentar a baqueta na caixa. Dar um abraço em minha vira-lata, sentir seu pelo na barriga. Vê-la se divertir.

Vontade de fazer qualquer coisa que dê na telha, mas que não precise de camisa certa e um discurso correto. Colocar os pés na grama ou em outro lugar onde realmente valha a pena.

20 de outubro de 2009

Amigos

Há amigos que nunca saem da memória, mesmo com o tempo, se nos falamos há um minuto ou há anos. Tenho sorte pelos que tenho: não são muitos, mas são fiéis. Pessoas que admiro, que têm coração e que me dão, cada uma a seu jeito, um sentido para existir.

Para alguém como eu, sem crença, uma boa razão para acordar, escovar os dentes, trabalhar, sorrir ou fazer qualquer bobagem é esta: cultivar as amizades e amá-las.

16 de outubro de 2009

O que é de mim

Não tenho talento para lidar com a emoção. Ser frio encontra aqui o seu fim: tento gelar tudo ao meu redor para neutralizar a chama interna. Não provocá-la. Fechei aliança com meu lado racional, não sei o motivo.

Prefiro os sentimentos na coleira.

30 de setembro de 2009

O peso

Há um dado na estante. Ele está lá, parado, e você tem certeza de que nunca sairá de lá, porque acha que é seu. E é, até você o perder.

Por algum motivo, você pega um pedaço de papel e joga fora, afinal, papeis são todos iguais. Um belo dia, você percebe que não é bem assim, pois aquele pedacinho de sulfite, com seus rabiscos e particularidades, era único.

O que dá sentido às coisas não são as coisas, mas o significado atribuído a elas.

Somos cada dadinho que se foi, cada papelzinho. Se amamos a nós, amamos o significado de cada cheiro, sabor ou tato colecionado com o tempo. A história que nos trouxe até aqui é a história do que somos.

25 de setembro de 2009

Hoje

Hoje acordei encaetaneado. Além de Caetano, passei a manhã ouvindo Belchior. Vim a pé para o trabalho. O céu está azul claro, com poucas nuvens, mas todas de algodão. 

Na noite de ontem ouvi "Tigresa", voz e violão, e hoje tudo ficou mais leve. Dormi e amanheci com ótimas trilhas. No banho, cantei "Alucinação". Hoje, nada ensina mais.

21 de setembro de 2009

Ser quando crescer

Dois e dois são quatro e a qualidade do ensino no país não é das melhores. Óbvio até para uma criança. No entanto, ser ruim não é a pior contribuição do sistema de ensino para a sociedade, embora seja terrível. Há outra, mais difícil de corrigir e mais grave: a insistência com a moral.

Essa, além de justificar erros, também contribui para jogar a culpa pelo desempenho educacional nas costas do aluno. Ela transfere responsabilidades, quando o sistema justifica suas falhas em frases como, por exemplo, "o aluno não aprende porque não quer".

A forma como algumas questões são abordadas no ensino é controversa. Dizem que é na escola que moldamos nossos valores, mas ao mesmo tempo eles são apenas transmitidos. Isso tem uma diferença enorme.

Afinal, uma coisa é estimular uma criança a pensar, passando a ela a importância do processo de reflexão para a construção da sociedade etc. Outra, diferente, é transmitir conceitos moralmente prontos, acabados, de certo e errado.

Reforçam a noção de "sucesso", por exemplo. Fica transmitido o sucesso como projeto de vida, mas o medem pelo que se faz e se tem, o que deixa subjetivamente colocado que, na vida, o mais importante é ter e não ser. Ou que ser na vida é ter.

Entre tantas, essa é uma das maiores atrapalhadas da moral. Pois faz com que a criança aprenda, desde cedo, a responder o que quer "ser" quando crescer. Que pergunta violenta! Fica pressuposto que, enquanto não se tem trabalho, não se é nada. O pai desempregado e o irmão sem profissão, tão comuns, inclusive.

18 de setembro de 2009

O que é de cada um

As pessoas valorizam aquilo que fazem quando não podem ser vistas. Ninguém é o que é quando há mais alguém no quarto, mesmo escuro. As pessoas só são o que são quando estão sozinhas.

15 de setembro de 2009

Bichos

Bichos são bem emocionais. Não conhecem o passado, não se importam com o futuro. Para eles, vale o presente, correr em direção de quem gosta e rosnar para quem não conhece. Não que o bicho-bicho, ao rosnar, queira briga. Apenas quer que o deixe em paz, que não o perturbe, que o deixe com quem se identifica.

Os homens, ao contrário, contam com a ajuda da razão. Não se resumem ao presente. Conhecem o passado, o relembram, e vivem fazendo as mais sérias previsões sobre o futuro. Quando é preciso, o bicho-homem sorri para quem não gosta e finge não gostar de quem gosta. Não é raro querer briga, mesmo sem motivo. Em muitos casos, deixa de lado um amor por questão de conveniência.

Não sei se sou mais bicho-bicho ou mais bicho-homem. Mas sei que existe um ou outro bicho-homem com um pouco de bicho-bicho, embora não exista nenhum bicho-bicho que tenha algo de bicho-homem. Gosto mais do bicho-bicho, é uma espécie mais confiável e tem a lambida bem mais molhada.

10 de setembro de 2009

Sobre a verdade de hoje

Bauman escreveu que nada se torna tradição na vida pós-moderna. As coisas não se repetem, porque são substituídas por algo novo. Como nada tem forma, também não tem fronteira e se liquidifica. As coisas não têm importância, pois, se tudo é passageiro, não há motivos para criar vínculos. Por que ir à fundo se amanhã será diferente?

Essa é a verdade de hoje, embora a história mostre que sempre há perigo na montagem da verdade. E também não sei se a vida precisa de certezas: ando duvidando cada vez mais das verdades que me dizem.

8 de setembro de 2009

Teen Scream

Escrevi uma letra para minha banda, a Nuvem Aquática, chamada "Esquinas". A gente sempre tocou a música em português, mas tenho guardado uma versão em inglês, que ficou bem legal.

Corners

in every corner of this city
there’s forlornness everywhere
sad boys asking for money
real scenes from any day

each street that I walk
sprayed walls, trash on the angles
teenagers loosing their charm
immorality scenes from any night

but, only who knows,
in a filthy alley
where beggars ask for changes
it’s not too late
and it’s not all
but only a little

at each day of this city
attention is took for granted
loosed in the corners
in the running of our cars

pass one and other corner
it’s the hot days and cold nights
ask for money, ask for changes
by the windows of our cars

only who know
about this filthy alley
where beggars ask for changes
realize that is too late
and in this world
we are all subordinate

youth should be the period
that we would pass
discrediting on TV and waiting the future
a rude world wasn’t to have
nobody cares about we think
an if the right is wrong
we got everybody up on the wall

4 de setembro de 2009

Frases que resumem muita coisa

Vários pedacinhos de papel caíram em meu colo. Traziam uma citação, o número de algum telefone ou um desenhinho tonto que fiz em alguma aula, enquanto o professor divagava e eu pensava em música ou qualquer outra coisa. Foi como naquela música do Paralamas: "Eu hoje joguei tanta coisa fora e vi o meu passado passar por mim". Dia de limpar a casa: cartas, rabiscos e projetos (desses que a gente cria para durar uma aula, um dia, no máximo).

Num desses papeis, achei uma frase muito legal: "O tempo no inconsciente nunca passa". Devo ter lido em algum livro. Além dessa, achei outras, soltas. Entre elas, uma ótima de Guimarães Rosa, sutil e leve: "O que lembro, tenho". Outra, um ditado árabe: "O guarda-chuva pode até ser seu, mas a chuva sempre será de todo mundo".

Gosto dessas frases que, em poucas palavras, resumem muita coisa. E daquelas que aparentemente são contraditórias, como "nem todo nonsense faz sentido", de Humberto Gessinger. Outra que gosto é do Paulo Freire: "O mundo não é, mas está sendo". E isto aprendi com a Mada Cosenza, uma amiga: "Quem bem faz, para si faz; quem mal faz, também para si faz".

Outra citação que guardei é do Eric Hoffer: "Nesses tempos de grandes mudanças, aqueles que aprendem herdarão o futuro. Os que acreditam que já sabem vivem em um mundo que já não existe". E esta fala sobre igualdade: "Todo mundo sangra vermelho".

Enfim, poderia colocar outras aqui, já que há dezenas nos fragmentos sobre o colo. Mas vou citar só mais uma, que vi na série Anos Incríveis, que passava na TV Cultura: "Talvez faça parte do amor aprender a deixar partir".

4 de agosto de 2009

Lista à toa de pessoas diferentes com algo em comum

Louis Armstrong, o do trompete
Juba da Blitz
Márcio Túlio do Jota Quest

Cole e Dylan Sprouse
Max Cavalera, Burle Marx
Marcos do Palmeiras

Elizabeth Bowes-Lyon
Barack Obama!
E eu!

14 de janeiro de 2009

Pantanal

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O homem é o único animal que cospe na água onde bebe; que mata para não comer; que corta a árvore que lhe dá sombra e frutos.

(Velho do Rio)

6 de janeiro de 2009

2009

Ano novo, vida nova! Feliz 2009!