24 de março de 2010

Quotidiano 3

Ela preparava algo no fogão enquanto ele pensava em sair do emprego, como todo dia. Para esquecer, levantou-se e a abraçou, porque era seu remédio. Na noite anterior, como em todas as outras, havia chegado chateado. Ela havia esquentado seu prato, mas ele o trocara pela TV.

Apertava-a contra seu corpo, ela sorria, ele falava palavras doces e ela sentia seu coração bater mais forte. 

Fim de noite, olhava a carteira vazia e não conseguia encará-la, dizer que mal havia para o gás e que a gasolina estava no fim. 

Bobagem. Ela sabia de tudo isso, não precisava que lhe contasse. Para ela, bastava um abraço apertado.

"O amor usa chinelos havaianas", ela dizia. Os dias passavam um a um e um dia deixariam de passar, sabia bem. Convencia-se de que o melhor era não ter tempo nem paciência para se importar. Mudar agora seria trabalhoso demais, bastava-lhe o trabalho penoso e diário de viver.