16 de março de 2010

Quotidiano

Chegou com cheiro de cachaça no uniforme, pediu comida, sentou-se, disse duas ou três coisas e foi ao rancho.

Fumava desesperadamente. Como que para esquecer os excessos, trocava todos por um só. Ela foi atrás, reclamou da sujeira, era quase invisível, mas estava lá, por toda a casa.

— Ainda te amo, mas queria as coisas de volta, como antes.

Ele não aguentava mais. Queria trazer flores, um colar, qualquer coisa que a fizesse ver, porque era verdade, que ainda era o mesmo. Mas parava na esquina e gastava o salário em dois ou três refúgios.

Esboçou dizer algo. Queria contar que ainda a amava, porque ela era sempre a mesma, um pouco mais brava em alguns dias, mais calma em outros, mas a mesma. Era perfeita e o mais importante, era sua.

Não disse nada. Terminou outro cigarro, entrou, deitou-se e dormiu no sofá. Tomou banho na manhã seguinte, fez a barba depressa e voltou ao trabalho, com o velho uniforme surrado de todos os dias.

Ontem, quando chegou, era como se não estivesse em casa. Hoje, quando partiu, só gostaria de ficar.

Queria mudar, mas mudar agora seria trabalhoso demais, bastava-lhe o trabalho penoso e diário de viver.