7 de outubro de 2010

Sobre os valores de Castor

O velho Castor se joga no sofá e tira o sapato. Reclama que está apertado e pede café. Na sala, as duas filhas conversam sobre a escola. Atrás de si, Catarina, sua esposa há 20 anos, mantém o rosto fechado.

Uma das meninas, Carina, vai buscar a bebida, enquanto Catarina lhe cobra que pare com o álcool. Diz que mesmo o café já não tira o cheiro ruim de sua boca e que pretende deixá-lo, caso as coisas continuem assim. Está blefando, e ambos sabem disso.

Patrícia, a caçula, mostra aos dois um toque novo que pôs no celular. É a música de uma nova boyband, e ele diz a si que as músicas de hoje já não são como as de antigamente. Quando o café chega, liga a TV e coloca em seu canal favorito. É um dos momentos mais aguardados do dia, e ele saboreia cada imagem como se fosse única, embora saiba que são todas iguais.

O cão de estimação late querendo entrar, Castor autoriza e sua esposa abre a porta. O bicho pula no sofá. Passa horas vendo TV, fazendo cafuné no felpudo. De tempos em tempos, grita para a esposa e ela, da cozinha, lhe traz tira-gostos.

Quando termina o programa, vai ao quarto deitar-se, pois é quinta-feira e no dia seguinte, já cedo, será preciso pegar dois ônibus para o trabalho.