16 de outubro de 2010

Sobre os valores de Castor (parte 4)

É sábado e Castor acorda mais tranquilo. Há coisas a fazer: o ferro de passar precisa de reparos e a pia do banheiro de conserto. Gasta a manhã em afazeres domésticos e senta-se para o almoço. Percebe que Catarina ainda está na bronca e se resume a falar só o necessário. Ela, ao contrário, fala bastante. 

— As meninas chegaram pouco antes de o sol nascer.

Castor reflete que isso não está certo, mas nada diz. No fundo, sabe que Catarina se encarregará de mantê-las na linha. Vai fazer a barba e apara o velho bigode. 

A noite chega e ele se desmonta no sofá. As filhas conversam e a esposa dorme com o cachorro no colo. Faz de tudo para não acordá-la, pega o controle-remoto e troca o canal.

Mas Catarina acorda, muda, e vai para o banho. Castor rememora momentos em que isso não acontecia sem que estivessem juntos. Mas diz a si que o tempo passou e que já estão velhos demais para amar feito jovens. Abandona os pensamentos; começa seu noticiário predileto.

Já na cama, pensa em abraçá-la, mas se contém. Pergunta a si o motivo e não consegue responder.