25 de outubro de 2010

Sobre os valores de Castor (parte 8)

A segunda-feira chega e o mundo recomeça. Na mesa do café, Castor come pão com margarina e bebe leite com chocolate em pó. 

Catarina comenta qualquer coisa, mas ele não ouve. Está com o trabalho na cabeça e não tem ouvidos para outra coisa. Come rápido antes de enfrentar o ônibus lotado.

Quando sobe no veículo, cumprimenta velhos conhecidos. As valetas são horríveis, mas não reclama: faz o trajeto todo dia e antevê os pontos ruins. Percebe que o número de passageiros jovens tem aumentado e diz a si que é por causa das novas exigências do mercado. É preciso custear estudos e sonhos.

Termina por pensar que, anos mais tarde, serão todos velhos conhecidos. É ruim vender a vida inteira por poucos salários, mas nem todos têm a sorte de tornar as coisas diferentes. Acontece.

Quando enfim chega ao emprego, não lhe deixam bater o cartão. Castor acha isso estranho, afinal, há anos faz o gesto sem que ninguém o interrompa. 

— Dona Odete quer falar com o senhor.

Vai até Dona Odete, convencido de que deve ser o aviso sobre mais um desses treinamentos de hoje em dia. "Antes era diferente, todo mundo trabalhava mais", pensa. Quase de modo automático, rememora todo o tempo que está ali.