7 de maio de 2010

A viagem e o retorno

Vinte anos mais jovem, ela o admirava por sua capacidade de dar atenção às coisas simples. Porque ela, para dar base aos sentimentos, vivia citando Rimbaud. Ele dizia ser preciso, antes, cuidar do jardim. 

Duas décadas mais experiente, ele a admirava por não temer o futuro. Porque ele não dava passos sem calcular a conta no banco, o seguro da casa. Gostava de ser assim, não era brigado com a vida, sentia-se seguro. No entanto, dizia a si que, se ela era ele vinte anos antes, não queria que ainda o fosse vinte anos mais tarde.

Porque sabia que estava ficando velho, chato e cinza. Talvez por isso se gostavam tanto: era ele a viagem dela, e ela, para ele, um retorno.