7 de maio de 2010

A viagem e o retorno

Vinte anos mais jovem, ela o admirava por sua capacidade de dar atenção às coisas simples. Porque ela, para fundamentar seus sentimentos, vivia citando Rimbaud, Rainer Maria Rilke e Baudelaire. Ele dizia ser preciso, antes, cuidar do jardim. 

Duas décadas mais experiente, ele a admirava por não temer o futuro. Porque ele não dava passos sem calcular a conta no banco, o seguro da casa, as taxas nos supermercados. Gostava de ser assim, não era brigado com a vida, sentia-se seguro. No entanto, dizia a si que, se ela era ele vinte anos antes, não queria que ainda o fosse vinte anos mais tarde.

Porque sabia que estava ficando velho, chato e cinza. Talvez por isso se gostavam tanto: era ele a viagem dela, e ela, para ele, um retorno.