19 de abril de 2010

Espiando Florestan

Limpa o suor da testa com um lenço que retira do bolso do paletó. Miúdo, etíope, acena com o braço franzino para um táxi que não para. São Paulo nunca foi coisa pouca, mas agora está demais.

Dessa vez, sou eu que estou no quarto. Aqui de cima, do terceiro andar, o vejo pela janela a uma distância de mais de 40 anos.

Transporto-o dali e o coloco sentado à mesa de um bar. Ele saboreia alguns tira-gostos, puxa um papel de boca e escreve: "Ninguém fala ou cala coisas por acaso".

Então fecho a cortina e me deito. Tiro-o do bar, porque já basta. Ligo a TV, outra janela, troco canais e vejo que ali dentro tudo é mais colorido. Não ao acaso. Como também não é o cinza lá da rua, onde Fernandes, finalmente, consegue um táxi.