13 de abril de 2010

Espiando Dostoiévski

Abro a porta e o vejo em pé, de costas, olhando o céu pesado do inverno russo. Usa roupas escuras, um casaco que lhe encobre por inteiro e um chapéu. Minutos depois, caminha para o lado da sala onde está a mesa de trabalho, cheia de papeis.

Pensativo, limpa parte da mesa e escreve: "Às vezes, o homem prefere o sofrimento à paixão". E Fiódor repete a frase em voz alta. 

Quase 200 anos depois, fecho a porta e desço a escada que me leva à rua, de onde não deveria ter saído. Porque palavras, juntas, têm o poder de um exército.