7 de junho de 2010

Labuta

Levanta o corpo, põe calçado, blusa e gorro. Dali para o café: meia garrafa e forte. 5h15.

Sai de casa, um cumprimento aqui, outro ali, o sol é tímido. Gotículas dão as mãos sobre carros, vidros e lixeiras. 5h45.

Chega, coloca a chave e o portão é aberto. A cozinha vem à vista, o pátio enorme, vassouras e baldes. Fecha os olhos, relembra tempos outros, tanto tempo, a juventude, os namoros, os amigos, tudo que se foi. O tempo passa. 6h20.

"Tenho 40", diz a si e começa. Água, rodo, panos, detergentes. A fumaça do cigarro lhe beija o rosto, ela traga e o calor lhe esquenta. Quer parar, mas continua. São muitos anos, não pode desistir agora. Do quê, já não sabe. 6h55.

Senta-se. Em minutos, todos chegarão para rodar a máquina que lhe paga. Tudo está em ordem, então está tudo bem. Dentro de si talvez não, mas quem se importa? 6h59.
 
Já há tanto tempo é assim que sequer questiona. Tem coisas outras a fazer. Pronto, sete em ponto. Viu? E o café, que realmente notam, sequer foi feito.