21 de junho de 2010
Cinza
Uma palavra tomou a frente das outras: prioridade. Já que não há como fazer tudo o que se tem a fazer, tornou-se preciso se render a ela, transformando-a em verdade absoluta.
18 de junho de 2010
In memoriam
"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros; e que, para a maioria, é só um dia a mais".
José Saramago (1922 - 2010)
13 de junho de 2010
Quaternária
Dividindo a vida em quatro, são irmãs as partes um e quatro, bem como as duas outras.
Fica na primeira o leque de preocupações singelas: brincar na rua, escolher um time do coração, conhecer palavras novas, o luxo de se importar com coisas banais.
Às duas seguintes, é reservado o abstrato. Por ser a realidade mais complexa que a teoria, surge um leque de dúvidas. Fica a certeza de não poder jamais dar-se ao luxo de não saber das coisas grandes: as artes, o trabalho, a eloquência, a ciência. Em resumo, o que se constrói no mundo adulto.
Na última, no entanto, está de volta o singelo, que volta a fazer sentido. Todas as coisas que antes eram grandes diminuem e, no lugar, surgem as pequenas, que aumentam de importância.
Percebe-se, então, como são grandes as coisas pequenas.
11 de junho de 2010
Ínterim
Há uma corda estendida entre o macro e o micro, sobre a qual se equilibram nossas escolhas. Todas as coisas acontecem sobre esse fio delgado; por mais divisíveis que sejam, terminamos por separá-las assim: grandes e pequenas. As mais singelas estão dentro de nós, enquanto as grandes se perdem, ou se encontram, mundo afora.
Estar no ínterim dos extremos justifica, de certo modo, o leque de dúvidas existenciais que um homem carrega. Dar o passo em qualquer das direções é renunciar a direção oposta.
7 de junho de 2010
Labuta
Levanta o corpo, põe calçado, blusa e gorro. Dali para o café: meia garrafa e forte. 5h15.
Sai de casa, um cumprimento aqui, outro ali, o sol é tímido. Gotículas dão as mãos sobre carros, vidros e lixeiras. 5h45.
Chega, coloca a chave e o portão é aberto. A cozinha vem à vista, o pátio enorme, vassouras e baldes. Fecha os olhos, relembra tempos outros, tanto tempo, a juventude, os namoros, os amigos, tudo que se foi. O tempo passa. 6h20.
"Tenho 40", diz a si e começa. Água, rodo, panos, detergentes. A fumaça do cigarro lhe beija o rosto, ela traga e o calor lhe esquenta. Quer parar, mas continua. São muitos anos, não pode desistir agora. Do quê, já não sabe. 6h55.
Senta-se. Em minutos, todos chegarão para rodar a máquina que lhe paga. Tudo está em ordem, então está tudo bem. Dentro de si talvez não, mas quem se importa? 6h59.
Já há tanto tempo é assim que sequer questiona. Tem coisas outras a fazer. Pronto, sete em ponto. Viu? E o café, que realmente notam, sequer foi feito.
2 de junho de 2010
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