23 de agosto de 2012

Em algum canto

Eu segurava uma garrafa de Haut Brion. Estava aberta, pela metade, e eu saboreava generosos goles a cada peça de roupa que ela tirava e lançava ao chão. Tragava um desses cigarros de menta e levantava a cabeça para exalar a fumaça.

Sua boca fazia um barulhinho doce toda vez que se abria, e eu adorava ouvi-lo. Por um momento, acreditei que fazia os gestos em sincronia com a música que ouvíamos. Estava deitado, com a velha bermuda dos dias calmos de domingo, e ela ali, quase nua.

Quando se virou e colocou as mãos para trás, para desabotoar o sutiã, levei as minhas ao rosto e pensei em como aquilo me fazia bem, em como tinha o poder de fazer com que eu esquecesse dos problemas. Lá fora estava o mundo e suas dores, mas ali a vida se resumia naquele jogo, e só naquele jogo — que a cada momento se tornava melhor: a cada gole de vinho, a cada trago de menta e a cada peça de roupa aos ares.