14 de março de 2012

Por outro lado

Assumi os tira-gostos como essenciais à vida. Às vezes, me levam para lugares distantes e eu os agradeço. Às vezes, não quero voltar.

Eu quis esquecer o que importa, admiti, enfim, que tentei um controle que jamais mereci. Acho que tínhamos sonhos diferentes, ainda que gostássemos da companhia um do outro e de coisas semelhantes, como Rush, como "Time stand still". 

Assumi, enfim, que o tempo não para.

13 de março de 2012

Por um lado

Toda vez que meu juízo foi mastigado pelo desejo de ter você por perto, me guardei. Por dentro, a velha chama. Por fora, o de sempre.

Ficou a impressão de que nunca me feri: de meu passado seguro, nunca tive nada a reclamar. E você, que sempre me entendeu por inteiro, foi vítima desse desapego.

Porém, sempre foi tudo diferente, escondi torcer pelo fogo na luta contra a água. Gelando o relacionamento, me fiz de rei, mas sempre senti falta do calor retraído.

Também por isso, bebo agora uma cerveja preta mais gelada que o normal; talvez me ajude a neutralizar a chama que insiste em não morrer.

8 de março de 2012

Sobre Dálias

E se o perdesse, o que faria? Recomeçaria? Era assim tão dependente de afeto? Conseguiria se apaixonar outra vez com a mesma intensidade? 

"Oras, mas que bobagem, nada termina!", argumentou. "Porque, afinal, as coisas se transformam". 

Ela não se contentava com a ideia contrária. Para ela, havia algo de perpétuo em tudo, como se até a mais insignificante das causas tivesse sua sempiternidade garantida. "Como em 'A Persistência da Memória'", explicou. 

Na parede, as Dálias tinham enorme espaço. Ficavam protegidas, pois não suportam ventos — talvez nem na pintura.