26 de novembro de 2009

Sobre o que é áspero

No mundo adulto, algumas regras são necessárias para que tudo fique bem. É preciso ser complacente com quem comanda, seja o chefe da empresa ou o professor. Falar o que pensa deixa qualquer um em maus lençóis.

Frente à sinceridade da palavra, dizem os donos da caneta: "acho áspero da sua parte". 

Paga-se caro para ter suas próprias opiniões. Quem se propõe a pagar por elas sabe bem.

12 de novembro de 2009

Escolha

Seria bom manter uma visão existencialista sobre as coisas, com todo pessimismo e realidade, e ao mesmo tempo ter a fé das lavadeiras, dos adoradores de santos, como se fosse possível coexistir a infelicidade da verdade e a felicidade da mentira. Acreditar concluindo.

O mundo é um lugar apaixonante também por isso: a escolha é sempre sua.

10 de novembro de 2009

Bobagem no céu

Se na noite de ontem o céu tivesse mudado de cor ou ficado por um tempo sem estrelas e ninguém tivesse lhe contado, você teria notado? 

Bom, eu também não. De repente, não havia nada de errado, estava tudo igual: aquele fundão preto e um monte de pontinhos brancos. Abri a página do UOL agora e não havia nada. Se não publicam uma notícia dessas, é porque nada aconteceu ou não tem importância.

E outra, quem tem tempo para reparar numa bobagem dessa?

6 de novembro de 2009

Romântico não é

Este não é um mundo romântico. Ou melhor: deixou de ser. Não há mais cartas ou espera, as coisas chegam rápido e todo mundo consegue saber tudo, ou quase tudo, sobre todo mundo. 

Quase não há segredos. Os escândalos são pré-fabricados. A multidão segue o fluxo; e você e eu estamos no mesmo barco: a gente corre o tempo todo e não dá conta! Cada um com o seu perigo, o tempo já não cabe no relógio, e o relógio já não cabe no dia. 

Está tudo na internet, desvendado para consulta. Juliette Binoche está na rede de todo e qualquer jeito. Se não tenho acesso, alguém digitaliza. A um segundo, pelos meus dedos, vejo coisas incríveis. Assim, dessa forma, só preciso da memória para lembrar do que não posso ter.

Mas que coisa: temos tudo, mas não temos nada. Conversamos com o mundo inteiro e não vemos ninguém. Somos íntimos sem sequer ter apertado a mão. Temos centenas de amigos virtuais, mas ninguém a fim de correr na chuva ou fazer algo diferente. Um mundo inteiro à vista, e a gente preso em três metros por quatro, sufocado pelo concreto. 

Não digo que isso é bom ou ruim, não é esse o propósito. Mas romântico não é.